Terça-Feira, 1 de Abril de 2025 - 05:22:13
Deseja receber nossas notificações?
TOPO - PRINCIPAL FELICIDADE IDH - PREFEITURA NITERÓI - 1190X148

"Sob a pele” no Centro Coreográfico

Dança Além das Fronteiras, Por Cláudio Serra, Professor da Escola de Teatro da UniRio

Em 09/02/2025 às 16:59:16
0:00
0:00

Houve duas apresentações do espetáculo “Sob a pele”, do Núcleo de Dança para Atores (NDA), no Teatro Angel Vianna (Centro Coreográfico da Cidade do Rio de Janeiro). No entanto, na divulgação está escrito que foi uma avant-première, o que significa que, logo, os leitores poderão assisti-lo em algum teatro da cidade.

Fisicalidade

Uma boa abordagem para começar a pensar o espetáculo “Sob a pele” é a da fisicalidade do coletivo de atores/bailarinos. Não sei há quanto tempo todos esses corpos trabalham juntos, nem quais aulas são oferecidas no NDA, mas poderia supor que foi um processo de muita dedicação, ao menos no que se refere aos recém-chegados. Todos estão preparados para o trabalho e há unidade física.

Essa qualidade de movimento coletivo é mais facilmente reconhecida entre intérpretes que já criam juntos há décadas. Aqui, entretanto, os jovens parecem ter confiado na condução da encenação (Roberto Lima), e em seus parceiros mais experientes, porque se mostram como peças distintas de uma mesma proposta coletiva. Não há abismos entre o que é teatro e o que é dança.

Destaco: precisão, em Plínio. Atenção ao outro, em Arthur. Sinuosidade, em Tomás. Base, em Júlia. Retas, em Vinícius. Mãos, em Andrea. Coluna, em Letícia. Prontidão, em Thiago. Expressividade, em Michele.

A coreografia de Monica Barbosa, por um lado, pede pulmão, calor, eletricidade em movimentos estendidos; por outro, pede sutileza e muito cuidado nos toques sobre a pele. Tudo isso conduz o espectador a imaginar o efeito “sob a pele”.


O íntimo e o mundo

O figurino de Nivea Faso, com sua transparência e tramas, remete à porosidade da pele. Pelo figurino vemos a carne dos bailarinos e pensamos em sua fragilidade: frágil corpo humano, frágil presença de alma e de corpo sobre a cena.

Como mencionado anteriormente, há grandes momentos coletivos, nos quais o grupo está em questão, tanto como técnica, quanto como conceito: a massa humana é feita de indivíduos. A pele, do ponto de vista do mundo, aparece como escudo, como limite, como terreno de reverberação dos afetos da humanidade.

Há, por outro lado, movimentos mais intimistas – e não me refiro apenas aos solos no centro do palco. O espectador percebe questões mais pessoais, o “eu” em destaque. São toques, espasmos, apoios e reverberações do gesto do “outro” que remetem às reações internas aos vetores do mundo. Nesse sentido, aparece, inclusive, o estranhamento com a própria identidade: a pele vira território de tentativa de reconhecimento.

Por último, destaco a relação entre as trajetórias marcadas nas peles. É bonito ver, sem maquiagens e máscaras, a pele de 40 anos justaposta à pele de 20.

Toque

Há bruxas a serem queimadas em todas as gerações, a fogueira é a mesma, o que difere é a bruxa. Mas as que são queimadas, voltam como sintoma. “Sob a pele” é um espetáculo bastante calcado no toque físico, no exato momento em que o toque no corpo alheio se tornou um tabu. Isso é compreensível, vistas nossas violências históricas, mas, mesmo nas escolas de teatro, onde seria inevitável “tocar o outro”, há um abismo entre os corpos, há medo.

A arte acolhe os fantasmas da história e as artes da cena são incríveis para fazê-los reviver. Em “Sob a pele”, o elenco, se abandona ao toque do outro. Aliás, não “o outro”, mas “os outros”. Não se trata de uma alteridade, mas de diversidade. São peles e afetos distintos que se encostam e entram em jogo. Essa dimensão foi muito bem trabalhada. Viva o toque!


Som

A voz aparece como liberação em dois finais de módulos coreográficos, uma soltura, um sopro que carrega consigo um som. É muito bonito, o público aplaude em cena aberta. Sinto falta de um pouco mais do uso da voz, além do sopro. Não acho que, nesse espetáculo, focalizado nos diálogos que a pele estabelece, a voz devesse aparecer com destaque, em textos longos. Porém, o que está “sob a pele” ressoa, também, em ruídos e, quem sabe, notas. Essa triagem bastante precisa de apenas duas liberações de ar pela boca misturadas ao som da voz acarreta dois momentos de grande destaque, vide as palmas. Pode ser uma intenção, uma proposta. E, talvez, faça parte dessa proposta deixar o espectador com vontade de ouvir mais sons das cordas vocais humanas. Se foi, comigo deu certo.

Em relação ao som da música, a escolha pelo Uakti revela uma conexão com sons ancestrais, relacionados aos elementos da natureza e isso coloca a questão da pele num terreno menos cotidiano. É inevitável lembrar do Grupo Corpo e sua relação entre o etéreo da dança clássica e a batida do pé no chão, próprio de todas as danças populares. E essa relação também é revelada em “Sob a pele”.

Ficha Técnica

Direção Geral: Roberto Lima
Coreografia: Mônica Barbosa
Gestão de Produção: Nando Andrade
Iluminação: Vinícius Rigo
Figurino: Nivea Faso
Assistente de Figurino: Marco Aurélio
Trilha Musical: UAKTI - I Ching
Edição de Vídeo: Thiago Magalhães
Fotografia: Thiago Ripper
Editais e Mídias Sociais: Ary Freitas e Maciel Tavares
Gestão de Projetos: Nando Andrade e Roberto Lima
Idealização: Núcleo de Dança para Atores
Realização: Visuallyze
Montagem e Operação de Luz: Cristiano Teodoro

INTÉRPRETES
Ândrea Cordeiro
Arthur Morsch
Isabella Brookes
Julia Emilene
Letícia Gelabert
Michele Lima
Plínio Morais
Thiago Magalhães
Tomás Santa Rosa
Vinícius Rigo

POSIÇÃO 2 - DOE SANGUE 1190X148
POSIÇÃO 3 - DENGUE1190X148
Saiba como criar um Portal de Notícias Administrável com Hotfix Press.